O bem-estar animal e ocorrência de tecnopatias em matadouro: relação com o desperdício alimentar

O bem-estar animal no transporte e no matadouro é uma preocupação por questões éticas, humanitárias, de saúde pública e económicas, e tem impacto na determinação de rejeições em matadouro por lesões/anomalias induzidas na fase pré-abate (por exemplo: traumatismos e fraturas). A tecnologia de abate é crucial na produção de carne de qualidade influenciando as rejeições em matadouro devido à ocorrência de lesões/anomalias induzidas por deficiente tecnologia de abate (por exemplo: aspiração agónica de sangue e conspurcação). Para promover o bem-estar animal no transporte e no matadouro e mitigar as tecnopatias de abate, é essencial adotar práticas de maneio e abate adequadas, fornecer instalações e equipamentos adequados, treinar o pessoal envolvido e garantir a conformidade com os regulamentos e diretrizes de bem estar animal. Estas ações não só atendem às preocupações éticas e legais, e ajudam a minimizar as rejeições em matadouro, mas também contribuem para a produção de carne de melhor qualidade, para a segurança alimentar. O presente trabalho decorreu no Centro de Abate da Região Autónoma da Madeira, com os objetivos de avaliar a influência das caraterísticas do transporte (classificado em apropriado e não apropriado de acordo com a regulamentação europeia), os procedimentos de maneio préabate e os que se efetuam na nave de abate, e relacionar estes com a ocorrência de lesões e/ou anomalias nas vísceras e carcaças, identificadas na inspeção post mortem. Foram contabilizadas as perdas decorrentes das rejeições por deficiências de bem-estar animal e tecnopatias. Foram abatidos 790 bovinos e os resultados avaliados demonstraram uma relação estatística significativa (p < 0,001) entre as caraterísticas do veículo e o número de animais transportados, servindo os veículos não apropriados apenas para o transporte simultâneo de um reduzido número de animais. Observou-se uma relação estatística significativa (p < 0,01) entre a duração da viagem e o número de animais em decúbito constatando-se o decúbito maioritariamente por parte dos animais cuja viagem durou menos de 30 minutos. Verificou-se uma relação estatística significativa (p < 0,001) entre as caraterísticas do veículo e o número de animais feridos no transporte, constatando-se uma maior percentagem de feridos aquando do transporte em veículos inapropriados. A forma de encaminhamento e a manifestação de comportamentos de desconforto durante o mesmo observou-se principalmente em animais em que foram usados métodos de encaminhamento com intervenção do homem. Os resultados mostraram ainda uma relação significativa (p < 0,01) entre a idade e a manifestação de comportamentos de desconforto na caixa de atordoamento, manifestando-os mais os animaisde idades inferiores a 24 meses. Conclui-se que o transporte e o maneio pré-abate tiveram influência no bem-estar animal. O número de rejeição por lesões compatíveis com tecnopatias de abate foi superior ao devido a deficiências de bem-estar animal. A reprovação da carne para consumo humano representa a perda de uma fonte alimentar de proteína ideal. É necessário realizar boas práticas de maneio e produção nas diversas etapas de pré-abate e abate, mas sobretudo treinar os magarefes para minimizar as perdas económicas associadas às tecnopatias de abate. Sem estas rejeições evitáveis de vísceras, outras miudezas e partes de carcaças, poderíamos poupar 4079,75 €.

Animal welfare in transport and slaughterhouse is a concern for ethical, humanitarian, public health, and economic reasons, and has an impact on the determination of rejections in slaughterhouses due to injuries/anomalies induced in the pre-slaughter phase (for example: trauma and fractures). Slaughter technology plays a crucial role in producing quality meat and has an impact on slaughterhouse rejections due to the occurrence of injuries/anomalies induced by poor slaughter technology (for example: agonic aspiration of blood and contamination). To promote animal welfare in transport and slaughterhouse and mitigate slaughter technopathies, it is essential to adopt proper handling and slaughter practices, provide suitable facilities and equipment, train personnel involved, and ensure compliance with animal welfare regulations and guidelines. These actions not only respond to ethical and legal concerns, and helping minimize slaughterhouse rejections, but also contribute to the production of higher-quality meat and food safety. This study was conducted at the Slaughterhouse Center of the Autonomous Region of Madeira, with the objectives of evaluating the influence of transport characteristics (classified as appropriate and not appropriate according to European Regulations), pre-slaughter handling procedures, and those performed in the slaughter area, and correlating these with the occurrence of injuries and/or anomalies in the organs and carcasses, identified during post mortem inspection. The losses resulting from rejections due to animal welfare deficiencies and technopathies were recorded. A total of 790 cattle were slaughtered, and the evaluated results showed a statistically significant relationship (p < 0,001) between vehicle characteristics and the number of animals transported, serving inappropriate vehicles only for the simultaneous transport of a small number of animals. There was a statistically significant relationship (p < 0,01) between the duration of the journey and the number of animals lying down, with a majority of animals lying down when the journey lasted less than 30 minutes. A statistically significant relationship (p < 0,001) was observed between vehicle characteristics and the number of animals injured during transport, with a higher percentage of injuries occurring during transport in inappropriate vehicles. The manner of handling and the expression of discomfort behaviors during handling were mainly observed in animals where handling methods involving human intervention were used. The results also demonstrated a significant relationship (p < 0,01) between age and the expression of discomfort behaviors in the slaughter area, with younger animals under 24 months of age exhibiting them more frequently. In conclusion, it is evident that transport and preslaughter handling had an impact on animal welfare. The number of rejections due to injuries consistent with slaughter technopathies exceeded those attributed to animal welfare deficiencies. The rejection of meat for human consumption represents the loss of an ideal protein food source. It is necessary to implement good handling and production practices at various stages of pre-slaughter and slaughter, but above all, to train the butchers to minimize the economic losses associated with slaughter technopathies. Without these avoidable rejections of organs, other offal, and carcass parts, we could save 4.079,75 €.