Cardiomiopatia hipertrófica felina : estudo transversal retrospetivo a propósito de 78 casos

Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, área científica de Clínica

A cardiomiopatia hipertrófica é a cardiomiopatia mais preponderante nos gatos, com uma prevalência de aproximadamente 15%. A maioria dos gatos apresenta doença subclínica, e muitos permanecem assintomáticos a vida inteira. Os machos e os gatos adultos apresentam predisposição para a doença. O fenótipo da CMH pode estar associado a outras afeções como o hipertiroidismo e a hipertensão felina. A progressão da manifestação clínica está relacionada com a disfunção diastólica, caracterizada pela restrição do enchimento ventricular. O DLVOTO associado ao MAS e a presença de isquemia e fibrose do miocárdio são também característicos. O presente estudo, de carácter retrospetivo, analisou 78 casos diagnosticados com CMH (IVSd ≥ 6 mm; LVFWd ≥ 6 mm), entre 2007 e 2020, na Clínica Veterinária Benavet – Terraços da Ponte, e previamente no Instituto Veterinário do Parque, com o intuito de caracterizar a população felina com CMH. A amostra em estudo era constituída por 50 machos (64%) e 28 fêmeas (36%), sendo a maioria gatos SRD (72%) seguida de Persas (n = 13; 17%). A idade média foi de 9,27 anos (DP 5,28 anos), com uma amplitude de idades elevada (dos 4 meses aos 19 anos). Os principais sinais clínicos observados foram sopro cardíaco (9/66; 13,6%), taquicardia (7/66; 10,6%) e dispneia (3/66; 4,5%). Relativamente aos parâmetros ecocardiográficos mais relevantes, os valores médios foram: FS = 50,16% (DP 7,49%), IVSd = 6,43 mm (DP 0,81 mm), LVFWd = 6,74 mm (DP 1,27 mm), AE/Ao = 1,38 (DP 0,42) e E/Am = 2,02 (DP 0,48). 25/67 (37,31%) gatos apresentavam MAS. À ecocardiografia encontraram-se também as seguintes alterações: derrame pleural (5/67; 7,46%), derrame pericárdico (4/67; 5,97%), insuficiência valvular (26/67; 38,8%) e dilatação atrial esquerda (19/67; 28,35%). Após a análise destes dados, 48 dos 67 casos foram incluídos no estádio B, com 11 sub estadiados no B2, e 19 gatos no estádio C. A terapêutica instituída compreendeu sobretudo a administração de atenolol (n = 47), seguido de IECA (n = 25) e furosemida (n = 12). Dos casos em que foi possível o seguimento, foi notória a melhoria após o tratamento. Um dos casos seguidos, o Paciente 6, corresponde a um caso de TMT, despoletado pela anestesia geral para castração. O Paciente 2 e 3 eram hipertiroideus e com a medicação foi possível estabilizar o hipertiroidismo e reverter a hipertrofia ventricular. Em conclusão, a maioria dos resultados obtidos estão em concordância com os descritos na literatura, podendo as diferenças serem justificadas pela elevada taxa de referência, que pode ter influenciado a idade de diagnóstico dos animais, e também a falta de informação nos registos clínicos

ABSTRACT - Feline Hypertrophic Cardiomyopathy : Retrospective Cross-sectional Study of 78 Cases - Hypertrophic cardiomyopathy (HCM) is the most prevalent cardiomyopathy in cats, with an approximate prevalence of 15%. Most cats have subclinical disease, and many remain asymptomatic throughout their lives. Males and adult cats are predisposed to the disease. The HCM phenotype may be associated with other conditions such as hyperthyroidism and feline hypertension. The progression of clinical manifestation is related to diastolic dysfunction, characterized by restricted ventricular filling. DLVOTO associated with SAM and the presence of myocardial ischemia and fibrosis are also characteristic. This retrospective study analyzed 78 cases diagnosed with HCM (IVSd ≥ 6 mm; LVFWd ≥ 6 mm) between 2007 and 2020 at the Clínica Veterinária Benavet – Terraços da Ponte, and previously at the Instituto Veterinário do Parque, with the aim of characterizing the feline population with HCM. The study sample consisted of 50 males (64%) and 28 females (36%), with the majority being Domestic Shorthair (72%), followed by Persians (n = 13; 17%). The average age was 9,27 years (SD 5.28 years), with a wide age range (from 4 months to 19 years). The main clinical signs observed were heart murmurs (9/66; 13.6%), tachycardia (7/66; 10.6%), and dyspnea (3/66; 4.5%). Regarding the most relevant echocardiographic parameters, the mean values were: FS = 50.16% (SD 7.49%), IVSd = 6.43 mm (SD 0.81 mm), LVFWd = 6.74 mm (SD 1.27 mm), AE/Ao = 1.38 (SD 0.42), and E/Am = 2.02 (SD 0.48). 25/67 (37.31%) cats had SAM. Echocardiography also revealed the following abnormalities: pleural effusion (5/67; 7.46%), pericardial effusion (4/67; 5.97%), valvular insufficiency (26/67; 38.8%), and left atrial dilation (19/67; 28.35%). After the analysis of these data, 48 out of 67 cases were classified in stage B, with 11 sub-staged in B2, and 19 cats in stage C. The treatment mainly consisted of administering atenolol (n = 47), followed by ACE inhibitors (n = 25) and furosemide (n = 12). Improvement was observed in cases with follow-up data available. One of the cases, Patient 6, corresponded to a case of TMT triggered by general anesthesia for neutering. Patients 2 and 3 were hyperthyroid, and with medication, it was possible to stabilize hyperthyroidism and reverse ventricular hypertrophy. In conclusion, most of the results obtained are in agreement with those described in the literature, and differences may be explained by the high referral rate, which may have influenced the age at which the animals were diagnosed, as well as the lack of information in the clinical records

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