Fatores de prognóstico e avaliação de um novo sistema de estadiamento TNM em carcinomas mamários de gatas

Os carcinomas mamários são uma das neoplasias mais comuns entre os pacientes felinos. O comportamento agressivo, a elevada taxa de mortalidade associada e as lacunas no conhecimento científico tornam-nos particularmente desafiantes tanto na prática clínica veterinária como na investigação oncológica. Apesar do crescente interesse na gata como modelo de oncologia comparada para o estudo do cancro de mama na mulher, a verdade é que as metodologias utilizadas no diagnóstico, estadiamento e tratamento veterinários não acompanham esta tendência evolutiva. É evidente a urgência de estudos de caracter prospetivo e multinstitucionais que permitam a sua aplicabilidade também nos animais domésticos. Esta dissertação pretende contextualizar o atual estado da arte e as limitações inerentes à abordagem clínica desta doença. Através do estudo retrospetivo e prospetivo objetiva-se determinar a influência de vários parâmetros clínico-patológicos no prognóstico de gatas diagnosticadas com carcinoma mamário. No total foram avaliadas 75 gatas, que foram intervencionadas cirurgicamente para a remoção do tumor primário entre julho de 2015 e abril de 2024 no Hospital Veterinário do Porto. A data da mastectomia serviu como o tempo 0 para a análise de sobrevivência, na qual foi avaliado o tempo livre de doença, a sobrevida tumorespecífica e a sobrevida total. Complementariamente, pretende-se averiguar o valor prognóstico de um novo sistema de estadiamento clínico, adaptado da sétima edição do AJCC Staging Manual. Os valores médios observados na população foram de 442 dias para o tempo livre de doença, 296 dias para a sobrevida tumor-específica e de 510 dias para a sobrevida total. A presença de ulceração cutânea [TLD: (p=0,010); STE: (p=0,016); ST: (p=0,001)], o tamanho elevado [TLD: (p=0,003); STE: (p<0,001); ST: (p<0,001)], a presença de metástase no linfonodo [TLD;STE;ST: (p<0,001)], o elevado grau histológico [TLD;STE;ST: (p<0,001)] e a invasão linfovascular [TLD;STE;ST: (p<0,001)] influenciaram de forma significativa e negativa os 3 pontos de corte avaliados. Por sua vez, a tipologia de tratamento adjuvante realizada após a cirurgia também condicionou a análise de sobrevida, na qual a associação de quimioterapia metronómica com imunoterapia parece conduzir a melhores resultados clínicos. Em 61,3% das gatas verificou-se recidiva da doença durante o acompanhamento, entre as quais, 30,7% dos casos foram categorizadas como recorrências locais, 56 % como distantes e, em 21% decorreu em ambas as localizações. O estadio clínico quer segundo as diretrizes da OMS como pelo novo sistema proposto revelaram uma associação estatisticamente significativa com o TLD, a STE e a ST (p<0,001), configurando valores inversamente correlacionados entre o estadio elevado e a diminuta sobrevida. As diferenças obtidas pelas duas metodologias assumiram também significância estatística entre elas. Efetivamente, a subcategorização do tamanho T3 numa categoria isolada, a ulceração como uma característica clínica com forte influência prognóstica e o envolvimento do linfonodo regional como distintivo de maior malignidade resultou em intervalos de sobrevida sucessivamente mais baixos. Estes achados sugerem que uma avaliação mais aprofundada e com apoio multidisciplinar poderá efetivamente revolucionar o atual paradigma diagnóstico e terapêutico dos felídeos domésticos.

Mammary carcinoma represents one of the most prevalent neoplasms observed in cats. The aggressive behaviour, high mortality rate and gaps in scientific knowledge associated with this neoplasm make it particularly challenging in both veterinary clinical practice and oncological research. Despite the growing interest in the cat as a comparative oncology model for the study of women’s breast cancer, it is evident that the methods used in veterinary diagnosis, staging and treatment have not kept pace with this development. There is a clear and urgent need for prospective, multi-institutional studies that can be applied to companion animals. This dissertation seeks to provide a contextualised overview of the current state of the art and to elucidate the limitations inherent in the clinical approach to this disease. This retrospective and prospective study aims to ascertain the impact of diverse clinical-pathological parameters on the prognosis of cats diagnosed with mammary carcinoma. Seventy-five female cats were assessed and underwent surgical removal of the primary tumour between July 2015 and April 2024 at the Hospital Veterinário do Porto. The survival analysis was based on the date of mastectomy, which was considered as the starting point for evaluating disease-free interval (DFI), tumor-specific survival (TSS), and overall survival (OS). Additionally, the objective is to ascertain the prognostic value of a new clinical staging system adapted from the seventh edition of the AJCC Staging Manual. The mean values observed in the population were 442 days for disease-free interval, 296 days for tumour-specific survival and 510 days for overall survival. The presence of skin ulceration (DFI: p=0.010; TSS: p=0.016; OS: p=0.001), large size tumours (DFI: p=0.003; TSS: p<0.001; OS: p<0.001), lymph node metastasis (DFI; TSS; OS: p< 0,01), high histological grade [DFI; TSS; OS: (p<0.001)] and lymphovascular invasion [DFI; TSS; OS: (p<0.001)] were found to have a significant and negative influence on the three endpoints assessed. Furthermore, the type of adjuvant treatment administered following surgery also influenced the survival analysis. Combining metronomic chemotherapy with immunotherapy appeared to result in more favorable clinical outcomes. In 61.3% of the cats, the disease recurred during the followup period. Of these, 30.7% exhibited local recurrences, 56% distant recurrences, and 21% both. The clinical staging, as defined by the World Health Organization (WHO) and the recently proposed system, demonstrated a statistically significant correlation with DFI, TSS, and OS (p < 0.001). This inverse relationship between high staging and poor survival was consistent across both methodologies. Additionally, the differences obtained by the two methodologies were statistically significant. Indeed, the subcategorization of T3 size into an isolated category, ulceration as a clinical feature with a solid prognostic influence and regional lymph node involvement as a distinguishing feature of greater malignancy resulted in successively lower survival intervals. These findings indicate that a comprehensive assessment, coupled with multidisciplinary support, has the potential to significantly transform the existing diagnostic and therapeutic approach for feline patients.