Os Carvalhais

Dizem nos os botanicos que Portugal ja foi em tempos um territorio coberto de florestas de carvalhos, sobretudo nas regioes a Norte do Tejo. No entanto, quem percorre as paisagens do nosso pais, tem alguma dificuldade em encontrar vestigios dessa floresta do passado. Mesmo nas regioes onde encontramos as arvores, o tipo de formacoes que constituem pouco ou nada tem a ver com o que terao sido os bosques de outrora. Umas vezes porque sao frequentemente cortadas, queimadas ou pastoreadas e como tal nunca chegam a atingir um porte de acordo com as potencialidades do solo e clima locais. Outras vezes porque se encontram de tal forma dispersas na paisagem que dificilmente conseguimos ter uma ideia de floresta. Se bem que em rigor devessemos incluir outras especies do genero Quercus, como a azinheira e o sobreiro, na designacao de “carvalho”, e comum associar a esta designacao apenas as especies de folha caduca (que cai no Outono) ou marcescente (que permanece algum tempo na arvore depois de secar). Deste modo reunem se neste volume informacoes sobre as tres principais especies de carvalhos stricto sensu do nosso pais: o carvalho portugues, o carvalho negral e o carvalho roble, cada uma delas constituindo uma Parte distinta e independente do volume. No entanto mais do que descrever cada especie em si interessou nos sobretudo descrever as formacoes que constituem ou seja, os diferentes tipos de carvalhal. A justificacao de um volume com uma serie de textos dedicados aos carvalhais reside assim na necessidade de informar e consciencializar o publico portugues sobre estas formacoes florestais, hoje em dia tao pouco representadas na nossa paisagem. Na verdade os dados mais recentes referem que, apesar da maior consciencializacao sobre o seu valor, os carvalhais continuam a declinar em termos de area ocupada (10% nos ultimos 10 anos), o que e um motivo de grande preocupacao. Deste modo pretendeu se com o presente volume abordar toda uma serie de aspectos relacionados com os carvalhais, tendo em conta quer a vertente tecnica e cientifica relacionada com a sua biologia, ecologia, silvicultura, utilizacao tecnologica e distribuicao, quer a vertente cultural e historica associada a cada uma das respectivas especies e as regioes onde ocorrem ou ocorreram. Assim a cada uma das tres especies esta associado um conjunto de cinco capitulos onde se abordam os diferen10 tes aspectos referidos. Muito embora o conjunto dos cinco capitulos tente cobrir de forma coerente todos os diferentes aspectos ligados a cada especie de carvalho e as respectivas formacoes, cada texto reflecte bastante a perspectiva individual de quem o escreveu. A perspectiva que e dada tem por vezes um caracter inevitavelmente tecnico, mas tenta se sempre que possivel utilizar uma linguagem proxima do cidadão comum. O presente volume e sobretudo um assumido conjunto de textos que se complementam mas que nao pretendem de forma alguma constituir uma monografia sobre os carvalhais de Portugal. Devemos referir ainda que nao existiu grande preocupacao em evitar a ocorrencia de algumas redundancias e mesmo de algumas contradicoes, tentando assim reproduzir fielmente a perspectiva pessoal de cada autor sobre cada tema, mesmo aqueles que aparecem abordados mais que uma vez. Os autores que foram convidados a escrever cada um dos capitulos sao reconhecidos especialistas a nivel nacional, representando por isso o melhor do conhecimento disponivel em Portugal sobre cada um dos temas. De entre todos os autores ha a destacar a colaboracao do Prof. Joao Paulo Carvalho que tomou a seu cargo a lideranca de maioria dos capítulos referentes ao carvalho negral e ao carvalho roble. Tao importantes quanto os textos sao as fotografias que aqui se apresentam, numa tentativa tambem de mostrar ao leitor o esplendor de paisagens que hoje em dia ja temos muita dificuldade em encontrar. O nosso convite ao leitor e assim para que aprenda com os textos e para que desfrute das imagens, na esperanca que dessa forma mais pessoas possam saber apreciar o nosso patrimonio florestal natural. O objectivo geral de divulgar e tornar mais proxima do publico a realidade florestal do nosso pais, tem como uma das finalidades principais o cumprir o designio superior de alertar para a preservacao e fomento da floresta autoctone em Portugal e nomeadamente dos bosques de carvalho. Porque a ignorancia e a maior inimiga da natureza e porque so se ama aquilo que se conhece.