Aloimunização eritrocitária associada à transfusão de concentrado de eritrócitos em doentes transfundidos no CHTMAD

A transfusão de concentrado de eritrócitos (CE) é uma terapia de suporte essencial amplamente utilizada. Embora muitas vezes salve vidas, não é isenta de riscos, uma vez que expõe o paciente à aloimunização pelo contacto com vários antigénios eritrocitários. A aloimunizacão ocorre quando um antigénio estranho é introduzido num hospedeiro imunocompetente e este evoca uma resposta imune. A aloimunização torna o paciente mais predisposto a reações transfusionais e aumenta o risco de desenvolver anticorpos adicionais em transfusões futuras. Isso dificulta a seleção de hemocomponentes compatíveis culminando em consequências clínicas e económicas. Assim, o objetivo principal deste trabalho é determinar a taxa de aloimunização associada à transfusão de CE no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD). Como objetivos secundários, descrever a frequência de anticorpos associados à aloimunização e caracterizar a população alvo relativamente ao sexo, idade, grupo sanguíneo ABO, fenótipo Rh e Kell, patologia associada, serviço de acompanhamento e carga transfusional. A taxa de aloimunização obtida na população em estudo foi de 1,3%, sendo o anticorpo mais comum o anti-K (18,5%). Dos 54 doentes estudados: 75,9% (n=41), desenvolveram apenas um aloanticorpo, 13,0% (n=7) dos casos não foi possível identificar a especificidade, e 9,3% (n=5) apresentaram dois aloanticorpos. Apenas 1,9% (n=1) dos casos desenvolveu três aloanticorpos. A população em estudo é maioritariamente do sexo feminino (51,9%), com uma média de idades de 69 (± 14,1) anos. O grupo sanguíneo A RhD positivo e o fenótipo Cceekk foram os mais prevalentes. O grupo de patologia mais frequente na população aloimunizada foi o das doenças hemato-oncológicas (25,9%), e o subgrupo de patologia foi o Síndrome Mielodisplásico (13,0%). Quanto ao serviço de acompanhamento da população em estudo caracteriza-se por ser maioritariamente acompanhada no hospital de dia de hematologia clínica. O número médio de CE administrados até à aloimunização foi de 7,2 (± 8,3). O presente estudo demonstrou a importância de caracterizar as populações aloimunizadas no sentido de definir grupos de elevado risco. Com base nesse entendimento, é viável direcionar medidas preventivas, resultando na redução das taxas de aloimunização e na otimização dos recursos disponíveis.

Transfusion of packed red blood cells (PRBC) is an essential support therapy widely used. Although often life-saving, it is not without risks, as it exposes the patient to alloimmunization due to contact with various antigens. Alloimmunization occurs when a foreign antigen is introduced into an immunocompetent host, triggering an immune response. Alloimmunization makes the patient more predisposed to transfusion reactions and increases the risk of developing additional antibodies in future transfusions. This makes it challenging to select compatible blood components, resulting in clinical and economic consequences. Therefore, the main objective of this study is to determine the rate of alloimmunization associated with PRBC transfusion at Centro Hospitalar de Trásos-Montes e Alto Douro (CHTMAD). As secondary objectives, the study aims to describe the frequency of antibodies associated with alloimmunization and characterize the target population in terms of gender, age, ABO blood group, Rh and Kell phenotype, associated pathology, department, and transfusion load. The alloimmunization rate obtained in the study population was 1.3%, with the most common antibody being Anti-K (18.5%). Out of the 54 patients studied: 75.9% (n=41) developed only one alloantibody, 13.0% (n=7) of the cases could not have their specificity identified, and 9.3% (n=5) of the population presented two alloantibodies. Only 1.9% (n=1) of the cases developed three alloantibodies. The study population is predominantly female (51.9%), with an average age of 69 (± 14.1) years. The most prevalent blood group was A RhD positive, and the Cceekk phenotype. The most frequent pathology group in the alloimmunized population was hematological oncology diseases (25.9%), with the subgroup of myelodysplastic syndrome (13.0%) being the most common. Regarding the department, the study population is mostly followed up in the hematology day hospital. The average number of PRBC administered until alloimmunization was 7.2 (± 8.3). The present study has demonstrated the importance of characterizing alloimmunized populations in order to define high-risk groups. Based on this understanding, it is feasible to direct preventive measures, resulting in the reduction of alloimmunization rates and the optimization of available resources.