Agricultura itinerante e manejo de recursos: impactos para uma floresta secundária tropical.

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

A expansão de florestas secundárias em ecossistemas tropicais devido ao abandono pós-agricultura itinerante é uma realidade impulsionada pela diminuição da produtividade, decorrente de práticas inadequadas de manejo. A regeneração natural é frequentemente a principal responsável pela restauração desses ecossistemas, mas sua eficácia é limitada por vários fatores, incluindo o grau de degradação, a fonte de propágulos e a proximidade com florestas adjacentes. O projeto de Manipulação de Água e Nutrientes em Floresta Secundária na Amazônia Oriental (MANFLORA) foi desenvolvido ao longo de oito anos (1999-2007) para compreender os fatores que influenciam a dinâmica desses ecossistemas. O experimento foi realizado em um ecossistema com histórico de 40 anos de cultivo agrícola itinerante e incluiu irrigação nos períodos mais secos e a remoção de nutrientes via serapilheira. Os tratamentos consistiram em irrigação, remoção de serapilheira e um grupo de controle. Após 16 anos do encerramento do MANFLORA, esta dissertação foi dividida em três capítulos visando compreender o contexto geral da agricultura itinerante na Amazônia e os impactos do manejo de recursos a longo prazo em floresta secundária da região. Diante disso, no primeiro realizou-se uma revisão bibliográfica sobre a agricultura itinerante na Amazônia, destacando sua importância para as populações rurais, e ressaltando os impactos negativos, como a redução da biota, fertilidade e agregação do solo, bem como impactos na flora e fauna. Os dois capítulos seguintes avaliaram os efeitos a longo prazo do experimento MANFLORA. O segundo capítulo examinou os indicadores de composição e estrutura da vegetação, mostrando divergências na composição florística entre os tratamentos, mas sem impactos significativos na estrutura da vegetação. O terceiro capítulo focou na dinâmica de nutrientes do solo e serapilheira, destacando efeitos residuais na disponibilidade de nutrientes como K, Ca, Mg e P. A irrigação influenciou positivamente a disponibilidade de K, enquanto a remoção de serapilheira impactou negativamente o pH e a produção mensal de Ca, Mg e P. Esses resultados sugerem que a gestão de recursos pode ter efeitos duradouros na dinâmica de nutrientes em florestas secundárias. Em resumo, o estudo destaca a importância da agricultura itinerante para as comunidades amazônicas, mas enfatiza a necessidade de práticas sustentáveis para equilibrar a produção alimentar com a conservação da floresta. Os resultados a longo prazo do MANFLORA fornecem insights valiosos sobre a dinâmica pós-agricultura itinerante, evidenciando a influência de manipulações de água e nutrientes ao longo do tempo. Portanto, este trabalho contribui para o entendimento do papel desses ecossistemas e destaca a importância de abordagens de manejo que considerem a resiliência e sustentabilidade a longo prazo.

The expansion of secondary forests in tropical ecosystems due to post-shifting cultivation abandonment is a reality driven by decreased productivity resulting from improper management practices. Natural regeneration often plays a major role in restoring these ecosystems, but its effectiveness is limited by various factors, including the degree of degradation, the source of propagules, and proximity to adjacent forests. The Manipulation of Water and Nutrients in Secondary Forests in Eastern Amazonia (MANFLORA) project was developed over eight years (1999-2007) to understand the factors influencing the dynamics of these ecosystems. The experiment was conducted in an ecosystem with a 40-year history of shifting agriculture and included irrigation during drier periods and the removal of nutrients through litter. Treatments consisted of irrigation, litter removal, and a control group. Sixteen years after the conclusion of MANFLORA, this dissertation is divided into three chapters aiming to comprehend the overall context of shifting agriculture in Amazonia and the long-term impacts of resource management on secondary forests in the region. In the first chapter, a literature review on shifting agriculture in Amazonia was conducted, highlighting its importance for rural populations and emphasizing negative impacts such as reduced biota, soil fertility, and soil aggregation, as well as impacts on flora and fauna. The next two chapters evaluated the long-term effects of the MANFLORA experiment. The second chapter examined indicators of vegetation composition and structure, showing differences in floristic composition among treatments but without significant impacts on vegetation structure. The third chapter focused on soil and litter nutrient dynamics, highlighting residual effects on nutrient availability such as K, Ca, Mg, and P. Irrigation positively influenced K availability, while litter removal negatively impacted pH and monthly production of Ca, Mg, and P. These results suggest that resource management can have lasting effects on nutrient dynamics in secondary forests. In summary, the study underscores the importance of shifting agriculture for Amazonian communities but emphasizes the need for sustainable practices to balance food production with forest conservation. The long-term results of MANFLORA provide valuable insights into post-shifting cultivation dynamics, highlighting the influence of water and nutrient manipulations over time. Therefore, this work contributes to understanding the role of these ecosystems and emphasizes the importance of management approaches that consider long-term resilience and sustainability.