O bem-estar animal durante o transporte em aquacultura: avaliação do efeito da sedação em Tilápia do Nilo

O uso de anestésicos pode melhorar o bem-estar dos peixes durante o transporte. Embora o metanossulfonato de tricaína (MS-222) seja o anestésico mais utilizado, este apresenta propriedades que podem ser irritantes e aversivas levando, por isso, à necessidade de encontrar alternativas. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da sedação em peixes, utilizando o propofol como substituto ao MS-222 durante uma situação de transporte simulado (STS). Todos os procedimentos foram aprovados pela DGAV (Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária), licença 014703/2017-06-16. A tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) mantida em condições adequadas para a espécie e sob controlo ambiental no biotério da UTAD foi a espécie escolhida como modelo de estudo. Para a simulação do transporte, foi desenvolvido um sistema de indução de vibrações nos aquários, idêntico às que ocorrem durante o transporte dos peixes. As tilápias foram divididas em quatro grupos (n = 7 em cada ponto de amostragem): controlo alojado em condições normais (naïve); controlo STS; sedação com MS222 (40 mg L-1 ) durante STS e com propofol (0,8 mg L-1 ) durante STS. O ensaio da STS teve uma duração de até 6 h, tendo os peixes sido avaliados individualmente e depois transferidos para tanques de recuperação, durante 18 h. Os níveis de nitrato e nitrito, O2 e pH foram registados às 0, 3 e 6 h. No início, aos 30 min, 1, 3 e 6 h foi realizada uma avaliação do nível de sedação pela contagem dos movimentos operculares, atividade dos peixes e pela resposta a diferentes estímulos (aproximação de objetos, toque e aperto na cauda). Após 3 h, 6 h e 24 h ao início do ensaio realizou-se o sacrifício e amostragem de sangue (determinação do hematócrito), plasma (determinação do cortisol) e tecido muscular (parâmetros bioquímicos/stresse oxidativo e determinação da qualidade do filete). Para verificar o efeito da sedação também se realizou uma avaliação comportamental. Nos parâmetros controlados na água apenas se verificou o aumento dos níveis de nitrato no grupo STS com MS-222, contudo dentro dos limites aceitáveis para a espécie. O nível de sedação induzido pelo MS-222 e pelo propofol foram confirmados pela diminuição da frequência opercular (movimentos operculares mais lentos). A sedação foi mais profunda nos animais sujeitos ao propofol em comparação com o MS-222, confirmado por uma menor reação aos diferentes estímulos. Observou-se um aumento nos níveis de cortisol no grupo STS às 6 h, efeito que foi atenuado durante a sedação com o propofol. Uma leve diminuição do hematócrito foi observada no grupo propofol às 6 h. Não se observaram diferenças nos parâmetros bioquímicos indicadores de indução de stresse oxidativo nem a qualidade do filete apareceu afetada. Os peixes sedados com propofol tiveram um comportamento que indicou estarem melhor adaptados a esta situação de stresse. No geral, o propofol parece ser um bom sedativo para melhorar o bem-estar dos peixes no transporte.

The use of anaesthetics may reduce the transport induced-stress in fish, improving animal welfare. Although tricaine methanesulfonate (MS-222) is the most commonly used anaesthetic, it has irritant and aversive properties, safety issues and residues that lead to the need of alternatives. Therefore, the objective of this work was to evaluate propofol as a substitute to MS-222, for sedation during transport of live fish. All procedures were approved by the DGAV (Direção Geral de Alimentação e Veterinária) through the project license 014703/2017-06-16. Nile tilapia (Oreochromis niloticus), raised under the following conditions: 24 ± 1ºC, 6.8 ± 0.3 mg L-1 of dissolved oxygen, and pH of 7.0 ± 0.2 (14h light:10h dark), were divided in four groups (n=7 in each endpoint): control housed in normal conditions (naïve); control under simulated transport (UST); fish sedated with MS-222 (40 mg L-1 ) UST and with propofol (0.8 mg L-1 ) and UST. Fish were individually evaluated during 6 h and then transferred to recovery tanks for 18h. Nitrate and nitrite, O2 and pH levels were registered at 0, 3 and 6 h. At 0, 0.5, 1, 3 and 6 h, the sedation level was assessed by the evaluation of the opercular movements, and the response to different stimulus (object approximation, touch and tail pinch), and by fish activity. At 3, 6 and 24 h after the start of the transport simulation, the animals were euthanized and the haematocrit and serum cortisol levels were assessed. To verify the effect of sedation, a behavioural assessment was also carried out. Environmental and water conditions remained constant throughout the experiment, although nitrate increased in the MS-222 treated group within the limits allowed (below 500 mg L-1 ). The sedative stage of MS-222 and propofol was confirmed by the characterized slow operculum movement. Sedation level was deeper in the propofol treated animals compared to the MS-222, confirmed by the weak reaction to the different stimulus. An increase was observed in the cortisol levels of the UST group, after 6 h of simulated transport and an attenuation of this effect was induced by propofol sedation. A slight decrease of the haematocrit was observed in propofol group at 6 h. Fish sedated with propofol had a behaviour that indicated that they were better adapted to this stressful situation. Overall, this study suggests that the propofol may be a good sedative to improve fish welfare during transport.