Brucelose em javalis da região de Trás-os-Montes: estudo sero-epidemiológico e indicadores ecológicos

Mestrado em Biologia Clínica Laboratorial

A Brucelose é considerada uma doença infeciosa reemergente com carácter zoonótico e com ampla distribuição geográfica. A Brucella é uma bactéria intracelular gram negativa capaz de infetar diversas espécies. O género Brucella é constituído por um conjunto alargado de espécies. No entanto, seis das espécies têm grande relevância devido à sua elevada patogenicidade, tais como Brucella abortus, Brucella melitensis, Brucella suis, Brucella ovis, Brucella canis e Brucella neotomae. Destas destacam-se B. abortus, B. melitensis e B. suis por apresentarem uma elevada capacidade de adaptação e infeção de hospedeiros secundários, exponenciando a sua dispersão nos ecossistemas. O javali tem elevado potencial económico na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, em particular pela qualidade organolética da sua carne e pela sua relevância na caça desportiva e, atualmente, é alvo de controlo sanitário. Os estudos realizados nesta área geográfica mostraram a grande relevância epidemiológica do javali como reservatório de brucelas patogénicas. Assim, o principal objetivo do presente estudo centrou-se no alargamento da amostragem por forma a complementar o conhecimento epidemiológico da brucelose nesta área geográfica e impacto nos ecossistemas terrestes. Para o efeito, foram testados 149 soros para a presença de anticorpos anti-Brucella utilizando para o efeito métodos serológicos, nomeadamente o teste Rosa de Bengala e o teste de c-ELISA. Os resultados dos testes efetuados revelaram 66% de seropositividade no teste Rosa de Bengala e de 48% no segundo teste. A brucelose nos suídeos causa aborto, orquite, infertilidade, artrites e paralisias nos membros posteriores, com elevados prejuízos económicos para as explorações agro-pecuárias. Pelas razões apresentadas, é essencial o desenvolvimento de planos de controlo desta zoonose de forma a mitigar os seus impactos na sanidade animal, na fauna selvagem e na saúde pública – integrando o conceito “Uma Só Saúde” ou “One Health”.

Brucellosis is considered a re-emerging zoonotic infectious disease with wide geographic distribution. Brucella is a gram negative intracellular bacterium capable of infecting several species. The genus Brucella encompasses a wide range of species. However, six of the species have greater relevance due to their high pathogenicity, such as Brucella abortus, Brucella melitensis, Brucella suis, Brucella ovis, Brucella canis and Brucella neotomae. Of these, B. abortus, B. melitensis and B. suis stand out because they have a high capacity to adapt and infect secondary hosts, increasing their spreading in ecosystems. The wild boar has high economic potential in the region of Trás-os-Montes and Alto Douro, in particular due to the organoleptic quality of its meat and, relevance in sport hunting, especially because of the current need of veterinary inspection of slaughtered animals. Studies carried out in this geographical area have shown the great epidemiological relevance of wild boar as a reservoir of pathogenic brucelles. Thus, the main objective of the present study focused on expanding the sampling in order to complement the epidemiological knowledge of brucellosis in this geographic area and its impact on terrestrial ecosystems. For this purpose, 149 sera were tested for the presence of anti-Brucella antibodies using serological methods, namely the Rose of Bengal test and the c-ELISA test. The results of the tests carried out revealed 66% seropositivity in the Rose Bengal test and 48% in the second test. Brucellosis in swine causes abortion, orchitis, infertility, arthritis and paralysis in the hind limbs, with high economic losses for farms. For the reasons presented, it is essential to develop control plans for this zoonosis in order to mitigate its impacts on animal health, wildlife and public health – integrating the “One Health” concept.